segunda-feira, 25 de abril de 2011

O mestre da arte simbolista

Escrevo hoje sobre aquele que considero como um dos maiores poetas da Poesia Brasileira, um dos pioneiros do simbolismo, o grande ''Cruz e Souza''.
Ao final da história de sua vida colocarei aqui alguns de seus melhores poemas...

João da Cruz e Souza nasceu em Nossa Senhora do Desterro (atual Florianópolis) no dia 24 de Novembro de 1861 vindo a falecer em Estação do Sítio em 19 de março de 1898, filho de escravos alforriados ele foi um dos maiores escritores afro-brasileiros.
Em sua infância recebeu a custódia e educação do Marechal Guilherme Xavier de Sousa de quem nosso poeta recebeu o sobrenome.
Aprendeu francês, grego e latim em sua educação além de ter sido discípulo do alemão Fritz Müller com quem aprendeu Matemática e Ciências.
Em 1881 Cruz e Souza dirigiu o jornal Tribuna Popular onde ele lutou contra a escravidão e o preconceito racial.
Cruz e Souza chegou a se casar com uma mulher de nome Gavita com quem teve 4 filhos, teve a dor de ver sua mulher enlouquecer, e perdeu todos os seus filhos de morte prematura, enfrentou uma vida de miséria, doenças e humilhações até morrer vencido por uma das mais devastadoras doenças de sua época, a Tuberculose.

Cruz e Souza escreveu poesias a vida toda porém só uma parte foi organizada e publicada pelo próprio: Missal, Bróqueis, Últimos Sonetos e Evocações, porém só viu publicadas as 2 primeiras obras tendo o resto sido publicado pelo seu amigo, o escritor Nestor Vítor.


Música da Morte
A música da Morte, a nebulosa,
estranha, imensa música sombria,
passa a tremer pela minh'alma e fria
gela, fica a tremer, maravilhosa...

Onda nervosa e atroz, onda nervosa,
letes sinistro e torvo da agonia,
recresce a lancinante sinfonia
sobe, numa volúpia dolorosa...

Sobe, recresce, tumultuando e amarga,
tremenda, absurda, imponderada e larga,
de pavores e trevas alucina...

E alucinando e em trevas delirando,
como um ópio letal, vertiginando,
os meus nervos, letárgica, fascina...


Lua


Clâmides frescas, de brancuras frias,
Finíssimas dalmáticas de neve
Vestem as longas arvores sombrias,
Surgindo a Lua nebulosa e leve...

Névoas e névoas frígidas ondulam...
Alagam lácteos e fulgentes rios
Que na enluarada refração tremulam
Dentre fosforescências, calafrios...

E ondulam névoas, cetinosas rendas
De virginais, de prônubas alvuras...
Vagam baladas e visões e lendas
No flórido noivado das Alturas...

E fria, fluente, frouxa claridade
Flutua como as brumas de um letargo...
E erra no espaço, em toda a imensidade,
Um sonho doente, cilicioso, amargo...

Da vastidão dos páramos serenos,
Das siderais abóbadas cerúleas
Cai a luz em antífonas, em trenos,
Em misticismos, orações e dúlias...

E entre os marfins e as pratas diluídas
Dos lânguidos clarões tristes e enfermos,
Com grinaldas de roxas margaridas
Vagam as Virgens de cismares ermos...

Cabelos torrenciais e dolorosos
Bóiam nas ondas dos etéreos gelos.
E os corpos passam níveos, luminosos,
Nas ondas do luar e dos cabelos...

Vagam sombras gentis de mortas, vagam
Em grandes procissões, em grandes alas,
Dentre as auréolas, os clarões que alagam,
Opulências de pérolas e opalas

E a Lua vai clorótica fulgindo
Nos seus alperces etereais e brancos,
A luz gelada e pálida diluindo
Das serranias pelos largos flancos...

Ó Lua das magnólias e dos lírios!
Geleira sideral entre as geleiras!
Tens a tristeza mórbida dos círios
E a lividez da chama das poncheiras!

Quando ressurges, quando brilhas e amas,
Quando de luzes a amplidão constelas,
Com os fulgores glaciais que tu derramas
Das febre e frio, dás nevrose, gelas...

A tua dor cristalizou-se outrora
Na dor profunda mais dilacerada
E das cores estranhas, ó Astro, agora,
És a suprema Dor cristalizada!...


Monja


Ó Lua, Lua triste, amargurada,
Fantasma de brancuras vaporosas,
A tua nívea luz ciliciada
Faz murchecer e congelar as rosas.

Nas flóridas searas ondulosas,
Cuja folhagem brilha fosforeada,
Passam sombras angélicas, nivosas,
Lua, Monja da cela constelada.

Filtros dormentes dão aos lagos quietos,
Ao mar, ao campo, os sonhos mais secretos,
Que vão pelo ar, noctâmbulos, pairando...

Então, ó Monja branca dos espaços,
Parece que abres para mim os braços,
Fria, de joelhos, trêmula, rezando...


 Velhas Tristezas


Diluências de luz, velhas tristezas
Das almas que morreram para a luta!
Sois as sombras amadas de belezas
Hoje mais frias do que a pedra bruta.

Murmúrios incógnitos de gruta
Onde o Mar canta os salmos e as rudezas
De obscuras religiões -- voz impoluta
De sodas as titânicas grandezas.

Passai, lembrando as sensações antigas,
Paixões que foram já dóceis amigas,
Na luz de eternos sóis glorificadas.

Alegrias de há tempos! E hoje e agora,
Velhas tristezas que se vão embora
No poente da Saudade amortalhadas!...

2 comentários:

  1. Provavelmente não é relevante mas ele lembra o Ed Murphy!

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  2. FOI MUITO SOFRIDA A VIDA DESSE NOSSO POETA MAIOR.
    TEMOS SEMPRE Q LEMBRÁ-LO.

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